Por Antonio Rodrigues Belon
Aprenda o mais simples! Para aqueles
Cuja hora chegou
Nunca é tarde demais!
Bertolt Brecht
(Elogio do Aprendizado /tradução Paulo César de Souza)
O espetáculo
Lenin e Brecht – duas revoluções, de Iná Camargo Costa, caracteriza-se por sua singularidade. Estuda as articulações entre a atuação política de Lenin (1870-1924) e a ação teatral de Brecht (1898-1956): os verbos agir e atuar, numa ou noutra ordem, sempre fundamentais na abordagem das duas figuras públicas da história dos séculos 19 e 20.
Uma descrição do livro implica em dizer o nome da editora, a Sundermann, e o ano de publicação, 2020. A publicação ocorre na categoria editorial, estante de Ciência Política. O selo colateral é o Ideias Baratas. O idioma, sendo a editora de São Paulo (SP), é o português do Brasil, obviamente.
O volume se apresenta no formato de brochura, 12 x 18 cm, em 228 páginas.
Lenin e Brechet – duas revoluções, de Iná Camargo Costa, reúne dois estudos interdependentes: um explica o outro, em mutualidade implícita. Dois grandes nomes, Lenin e Brecht, internamente articulados pela intervenção e pelo ponto de vista revolucionários.
Lenin
Em pouco mais de 80 páginas, a primeira parte, “Revolução vitoriosa”, levando o subtítulo “Lenin em 1917, direção em disputa e liderança reconhecida”, expõe a trajetória do dirigente revolucionário russo, naquele ano. Trata, principalmente, de seus textos de intervenção mais explícitos: porque em Lenin, de intervenção são todos os movimentos e os textos. Desse corpo selecionado emerge um critério para se pensar processos revolucionários, teórica e praticamente.
Na abertura dessa parte vem uma epígrafe com a transcrição de versos de Maiakovsky (1893-1930). A seguir, no item denominado “Advertência”, a autora estabelece, ao modo de John Reed (1887-1920), de Os Dez dias que
abalaram o mundo (1919), uma precisão terminológica de nomes de figuras e de grupos mencionados na obra.
Uma amostragem do sabor tipificando um saber, ambos presentes de cabo a rabo em Lenin e Brecht – duas revoluções, de Iná Camargo Costa, está no trecho:
“Para uma leninista empedernida como a organizadora dos materiais presentes neste texto, são raros os prazeres comparáveis à reconstituição da experiência revolucionária de 1917.” (p. 15)
A enfatizar: a modéstia de Iná Ferreira Costa ao designar-se “organizadora” quando o trabalho autoral e criterioso se faz notar e a indicação do prazer da “reconstituição”. A leitura desta reconstituição é efetivamente prazerosa a quem se disponha a fazer o percurso.
Nesta parte, a reconstituição da Revolução Russa estabelece um quadro da situação abrangendo os acontecimentos de abril a outubro de 1917. Apresenta documentos e transcreve, sem sobrar nem faltar, fragmentos e textos básicos na compreensão do processo revolucionário vivido e dirigido por Lenin.
Um referência inescapável é Trotsky (1979-1940) e a sua História da Revolução Russa (1930).
Na reconstituição da história da revolução e nela a participação de Lenin, Lenin e Brecht – duas revoluções, de Iná Camargo Costa, prima pela seleção e combinação de textos, de documentos, de maneira a fundamentar adequadamente e oferecer uma compreensão límpida do processo revolucionário.
Brecht
Lenin e Brecht – duas revoluções, de Iná Camargo Costa, na sua segunda parte, “Revolução Assassinada”, demora-se na leitura de “A decisão” (1930), de Bertold Brecht. Na peça, Brecht elabora dramatúrgica e teatralmente, uma denúncia do assassinato de Revolução Chinesa (1925-1927). A peça faz um escrutínio daquela revolução oriental, onde e quando se deu a prevalência do reformismo.
O reformismo usurpou a intervenção e o ponto de vista revolucionários. Isto motiva e justifica a denúncia.
Por mais de 50 páginas, no esquema rigoroso e vivo de citações e recorrências de documentos, o livro estabelece preliminares, desenvolve comentários e hipóteses. Acrescenta um conjunto de anexos sobre o tema,
permitindo um aprofundamento articulado ao conteúdo dramático do texto de Bertolt Brecht.
A revolução teatral – estrutural e temática – e as revoluções políticas –russa e chinesa – articulam-se intrinsecamente. Inseparavelmente, no todo do livro em resenha.
A revolução permanente
Do projeto gráfico e a diagramação aos elementos textuais e paratextuais – epígrafe, apresentação, anexos, etc. – Lenin e Brecht – duas revoluções, de Iná Camargo Costa, vale pelo rigor crítico e intelectual e pela lucidez e tomada de posição militante de quem se alinha a Lenin e a Brecht, sempre se colocando, sem tergiversações, no ponto de vista revolucionário. Visão e inserção no mundo revolucionariamente configuradas.
As informações previamente pesquisadas e organizadas, expostas ao longo do estudo com as intervenções da autora, lúcidas, críticas e consequentes sobre os materiais, tornam a totalidade da obra funda, larga, na sua simplicidade e apresentação didática.
Lenin e Brecht – duas revoluções, de Iná Camargo Costa, é leitura e material de consulta permanente. Coisa de prazer e de luta – isto não é pouco.
Referência
Lenin e Brechet – duas revoluções. COSTA, Iná Camargo. São Paulo: Sundermann: Ideias Baratas, 2019.