MINHA VIDA, LEON TROTSKY
TROTSKY, Leon. Minha vida. Tradução Rafael Padial. São Paulo: Sundermann, 2017.
Antonio Rodrigues Belon.
Breve histórico:
Ler o livro é fundamental. Nenhuma resenha é um livro.
Originalmente publicado em russo, em 1923, a tradução é do Francês, edição de 1953. Considerando-se a data da edição em resenha, o texto passa por três momentos diferentes. Faz um sinuoso e significativo percurso. Concretiza-se numa triplicidade linguística: Russo, Francês e Português.
No Brasil, as palavras e ideias de Trotsky mobilizam os leitores de gerações sucessivas, por décadas, desde uma tradução anterior. ([1]) A tradução de agora, atualiza, em publicação nova, as possibilidades de leitura e releitura.
A produção editorial
Passando por itens como o Conselho Editorial, a tradução, a capa, o projeto gráfico e a diagramação; as revisões, a coordenação editorial e a catalogação; o sumário e a lista de imagens; tudo feito com zelo e criatividade, o leitor tem em suas mãos um volume primoroso.
As notas dos editores e do tradutor, um prefácio norueguês de 1935 e o prefácio original de1929, completam um conjunto de muita qualidade. Quarenta e cinco capítulos, um artigo – “Como aconteceu” – por Natalia Sedova Trotsky, asseguram um conteúdo extremamente relevante. O “Testamento de Trotsky” e o “Diário do Exílio, 1940”, aumentam o alcance da publicação. Uma seleta bibliográfica traz sugestões de leituras afins ampliando os horizontes para o leitor.
O gênero textual
No título, escrito por Leon Trotsky (1879-1940), o pronome indicativo associado à palavra vida permite a consideração do texto como uma autobiografia. Vale explorar o termo em sua extensão semântica e os elementos característicos da autobiografia: começando pela forma da linguagem, a narrativa em prosa. Levando em conta o assunto tratado, a vida individual, a história de uma personalidade. Pondo em destaque a situação do autor, seu nome, a sua identidade, como uma pessoa real idêntica ao narrador e à personagem principal. Por fim, o caráter retrospectivo da narrativa.
Ou como definiria um estudioso: “narrativa retrospectiva em prosa que uma pessoa real faz de sua própria existência, quando focaliza sua história individual, em particular a história de sua personalidade. (p. 14) ([2])
A figura de Trotsky
Historicamente, Leon Trotsky ocupa um lugar central no século XX pela sua atuação em 1917, na Revolução, em nos anos posteriores, até a sua morte, em 1940, por sua oposição ao processo de organização da derrota das conquistas revolucionárias e de degeneração do Estado operário na União Soviética. A sua produção bibliográfica abrange a historiografia, a cultura, a arte, a teoria da literatura, os modos de vida, o cotidiano – e, claro – a política nos seus fundamentos e nas sucessivas conjunturas. A presença pública do autor é gigantesca, em várias áreas da vida humana, inclusive no cinema. ([3])
Uma vida singular e os seus conteúdos
Os capítulos do livro abordam temas como o nascimento e as origens, a família, a infância, os primeiros estudos, os livros, a escola e os conflitos vividos nela, o campo e a cidade, a ruptura com o seu modo de vida originário e a primeira organização revolucionária em sua trajetória existencial, as prisões, a deportação, as emigrações, as cisões, muitas idas e vindas. A revolução de 1905 e o autor nela. A guerra (194-18), as relações de Trotsky com a Alemanha, a França, a Espanha e Nova York (EUA).
Põe em destaque o outubro de 1917 e o poder ao alcance da mão. Desenvolve reflexões em quadro informativamente relevante sobre Petrogrado e Moscou, as calúnias de que foi objeto; evidencia as negociações e a paz, o seu momento militar, a sua vivencia da NEP – nova política econômica.
Escreve sobre Lenin, a luta no interior do Partido, a deportação, o exílio, de um Trotsky posto no mundo sem eira nem beira.
O fim de um homem
Repita-se, ler o livro – isto é fundamental. Fundamental na manutenção viva da da permanência de uma perspectiva revolucionária. Ler o livro é manter aceso um fogo de combate pelo e no horizonte socialista.
Neste caso, vida e revolução são sinônimos.
[1] TROTSKY, Leon. Minha vida: ensaio autobiográfico. Tradução de Lívio Xavier. 2. ed Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978. (Pensamento Crítico, v. 20)
[2] LEJEUNE, Philippe. O pacto autobiográfico: de Rousseau à internet. Organização: Jovita Maria Gerheim Noronha. Tradução de Jovita Maria Gerheim Noronha, Maria Inês Coimbra Guedes. Belo Horizonte: UFMG, 2008.
[3] O ASSASSINATO DE TROTSKI, (Itália/França/Reino Unido, 1972) Estrelando: Richard Burton, Alain Delon, Romy Schneider, Valentina Cortese, Enrico Maria Salerno. Produção: Joseph Losey, Norman Priggen, Josef Shaftel. Roteiro: Nicolas Mosley. Música: Egisto Macchi. Fotografia: Pasqualino de Santis. Edição: Reginald Beck. Direção de arte: Arrigo Equini. Diretor: Joseph Losey.